Cheio de conexões: espião chinês recrutava informantes americanos pelo Linkedin

Jun Wei procurava alvos "insatisfeitos com o trabalho" ou "em dificuldade financeira". Foto: Getty Images
Jun Wei Yeo, em 2015, foi convidado para dar uma palestra a estudantes universitários chineses em Pequim. O cingapuriano havia acabado de começar o PhD, e o tema de seu doutorado havia sido a política externa da China. Com informações da BBC Brasil.

Após a apresentação, Jun Wei, também conhecido como Dickson, foi, de acordo com documentos judiciais americanos, abordado por um grupo de pessoas que afirmavam trabalhar para um think tank chinês e que lhe disseram que gostariam de contratá-lo para que escrevesse "análises políticas". Mais tarde, eles especificariam do que o trabalho na verdade se tratava: a coleta de informações sigilosas e privilegiadas.

Jun Wei percebeu ainda cedo que estava negociando com agentes da inteligência chinesa e, ainda assim, deliberadamente manteve contato com eles, conforme consta em seu depoimento. Durante algum tempo, sua área de "pesquisa" foram os países do sudeste asiático, até que lhe pediram que voltasse suas atenções ao governo americano.

Cinco anos depois, em julho de 2020, em um cenário de tensão crescente entre Washington e Pequim, ele se declarou culpado em um tribunal americano e confessou ser um "agente ilegal de uma potência estrangeira". A pena de Jun Wei, hoje com 39 anos de idade, pode chegar a 10 anos de prisão.

De acordo com os documentos divulgados pela Justiça americana, o então estudante de PhD se encontrou com as pessoas que o haviam recrutado em dezenas de locais diferentes na China. Em uma das reuniões, ele foi incumbido de obter informações sobre o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, sobre inteligência artificial e sobre a guerra comercial entre as duas potências.

O Recrutamento

Jun Wei abordava parte de seus alvos por meio do LinkedIn, a rede social voltada para o relacionamento profissional com mais de 700 milhões de usuários. A plataforma é descrita nos documentos judiciais apenas como "um site para networking profissional", mas o nome foi confirmado pelo jornal Washington Post.

Perfil de Dickson Yeo, agora deletado, no LinkedIn. Foto: Reprodução/Linkedin
Ex-funcionários do governo, do Exército e empreiteiros costumam compartilhar uma parte relevante de seu trabalho na busca por novas oportunidades profissionais. Isso acaba sendo um prato cheio para agentes de inteligência de outros países.

Jun Wei pagava a alguns dos seus contatos na rede para que escrevessem relatórios para sua empresa de consultoria, batizada com o mesmo nome de uma companhia renomada no mercado. Uma vez em suas mãos, as informações eram então enviadas a seus contatos chineses.

Conforme os documentos judiciais, o espião era aconselhado a procurar por profissionais de estivessem "insatisfeitos com o trabalho" ou "em dificuldade financeira".

Uma das pessoas que ele contatou trabalhava no programa da Força Aérea americana para construção do caça F-35 — e admitiu que vinha passando por problemas financeiros. Outra era um oficial do Exército que trabalhava no Pentágono, a quem o espião pagou pelo menos US$ 2 mil (cerca de R$ 10,5 mil) para escrever um relatório sobre como a retirada de tropas americanas do Afeganistão impactaria a China.

O procurador-geral assistente da Divisão de Segurança Nacional dos EUA, John Demers, afirmou que o caso é um exemplo de como a China explora "a abertura da sociedade americana" e usa "não-chineses para abordarem americanos que nunca sairão dos EUA".

Fonte: www.bbc.com

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